O número de equipamentos de climatização no Brasil deve crescer de forma exponencial nas próximas décadas. Segundo projeção da Agência Internacional de Energia (AIE), o país poderá alcançar a marca de 160 milhões de unidades até 2050, um aumento de 350% em relação ao volume atual.
O cálculo leva em conta apenas o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a tendência de urbanização. No cenário global, o salto será de 2 bilhões para 5,5 bilhões de aparelhos em uso, reforçando o papel da refrigeração como um dos principais motores do consumo energético nas próximas décadas.
O avanço, embora indique maior conforto térmico e qualidade de vida para milhões de pessoas, acende um alerta importante: o de como equilibrar essa expansão com sustentabilidade e eficiência energética.
O desafio é duplo, garantir o acesso à climatização em um país de clima majoritariamente tropical, ao mesmo tempo em que se evita sobrecarregar o sistema elétrico e ampliar as emissões de gases de efeito estufa.
Clima mais quente e renda mais alta impulsionam a demanda
O crescimento da renda e o aumento das temperaturas médias são os dois principais fatores por trás da escalada da climatização residencial e comercial. Estudos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) mostram que a temperatura média do Brasil vem subindo de forma consistente, com recordes de calor registrados em praticamente todas as regiões nos últimos anos. Em 2024, 17 capitais ultrapassaram a marca dos 40 °C durante o verão, um dado que ajuda a explicar o aumento nas buscas e nas vendas de equipamentos voltados ao conforto térmico.
De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA), o setor movimenta mais de R$ 40 bilhões por ano e emprega diretamente cerca de 350 mil pessoas. Com a previsão de triplicação da base instalada até 2050, o impacto econômico e energético tende a ser ainda mais expressivo.
Eficiência e educação do consumidor como prioridades
Em meio ao crescimento, o tema da eficiência energética ganha centralidade. A AIE estima que os equipamentos de climatização já respondem por cerca de 10% do consumo global de eletricidade. No Brasil, esse número é ainda mais sensível em períodos de calor intenso, quando o uso simultâneo pressiona o sistema elétrico e eleva o custo da energia.
Especialistas defendem políticas públicas e incentivos para estimular a troca de modelos antigos por versões mais eficientes, com selo Procel e uso de gases refrigerantes menos poluentes. A atualização tecnológica é fundamental para que o aumento da demanda não signifique um aumento proporcional de emissões e desperdício energético.
A educação do consumidor também é essencial. Muitos compradores ainda escolhem os aparelhos apenas pelo preço inicial, sem considerar o rendimento e o custo de operação ao longo do tempo. Um equipamento mais eficiente tende a oferecer economia significativa na conta de luz e retorno econômico a médio prazo, reduzindo a pressão sobre o sistema e os gastos familiares.
Tecnologia e infraestrutura: o próximo desafio
Com o aumento previsto, o país precisará investir em infraestrutura elétrica e em novas fontes de energia para atender à demanda. A expansão da energia solar distribuída, que já ultrapassa 37 gigawatts instalados no Brasil, pode ser uma aliada importante nesse processo. A descentralização da geração reduz a pressão sobre o sistema e permite que consumidores residenciais e corporativos se tornem parte da solução.
Ao mesmo tempo, fabricantes investem em tecnologias inteligentes, como sensores de presença, controle via aplicativo e sistemas automáticos de desligamento, que ajudam a otimizar o uso e evitar desperdícios. O conceito de climatização eficiente, que combina conforto térmico, economia e baixo impacto ambiental, tende a ser cada vez mais valorizado por consumidores e empresas.
O cenário traçado pela AIE é, portanto, uma combinação de oportunidade e responsabilidade. O ar-condicionado, símbolo de bem-estar e modernidade, também se torna um indicador de desenvolvimento sustentável. A forma como o país enfrentará esse crescimento, equilibrando tecnologia, eficiência e educação, definirá não apenas o conforto dos próximos anos, mas o próprio equilíbrio energético do futuro.




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